REVISTA SALVE s/a

O grafite conquista espaço no papel

Publicação tem a intenção de servir como vitrine à produção dos grafiteiros envolvidos com a Rede Resistência Solidária. Projeto conta com apoio do Governo do Estado
Um importante instrumento para a disseminação do trabalho produzido por grafiteiros toma forma no Estado. Por meio de uma iniciativa da Rede Resistência Solidária, será publicada, trimestralmente, a revista Salve S/A, lançada no início do mês em evento realizado no auditório da Livraria Cultura. A publicação traz consigo a promessa de dar mais visibilidade às ações de caráter social e cultural promovidas por agentes ligados aos coletivos que integram a Rede.


As expressões artísticas – música, literatura e artes visuais - cuja produção esteja diretamente interligada às ações em prol da cidadania têm espaço garantido na revista. A primeira edição tem tiragem de dois mil exemplares e cada revista pode ser adquirida ao preço R$4,99. O valor inclui as despesas com impressão do material, comissão para os vendedores da revista e uma pequena contribuição para subsidiar ações da Rede Resistência Solidária.


Neste número, gerido a partir da colaboração de agentes atuantes de diversos coletivos, encontramos temas relacionados ao universo do grafite e o envolvimento dos jovens com iniciativas sócio-culturais através da arte de rua. Uma galeria reúne trabalhos de diversos grafiteiros que deixam sua marca nas ruas do Recife – Galo de Souza, Pilo, Luther, Carbonel – são alguns dos nomes.


As mulheres não ficaram de fora. A ação Trinchera Tinta!!!, organizada pelo coletivo Flores Crew, em maio passado, foi destacada na publicação. O encontro reuniu mulheres grafiteiras que também contribuem para fortalecer a disseminação do grafite nas paredes da cidade. Alguns dos trabalhos produzidos na ocasião foram selecionados e podem ser conferidos nesta edição.


Uma entrevista produzida pelo coletivo Rádio Guerrilha do Giz traz uma conversa com três atuantes pichadores de comunidades diferentes. Raider, Falso e Ritiz falam do envolvimento com a pichação e as experiências vivenciadas nas ruas. Gustavo Pontual, do grupo Inquilinos e integrante do coletivo De outro Jeito, escreveu um texto em que pontua a importância da articulação entre diversos coletivos com o objetivo de fomentar a cadeia produtiva que pulsa nas comunidades.


O projeto, que conta com o apoio da Fundação de Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, traz uma proposta válida e fundamental para a disseminação de ações encabeçadas por jovens de diversas comunidades carentes. Contudo, talvez por ser a primeira edição ou pela falta de experiência da equipe com um projeto gráfico mais robusto, a revista possui algumas carências que precisam ser revistas e repensadas para o próximo número: alinhamento editorial, um designer mais arrojado e tratamento mais profundo dos temas abordados. Um produto que tem a intenção de servir como vitrine para a arte urbana desenvolvida pelos grafiteiros tem o dever de fazê-lo com qualidade.


Como o grafite é uma manifestação ligada à cultura hip hop, a revista também poderia investir mais em temas que permeiam esse universo: lançamentos de CD´s e livros, dicas para grafiteiros iniciantes, divulgação de ações que ainda irão acontecer, entre outras coisas. Assunto é o que não falta. Não dá pra reclamar mais da ausência de espaço por que a Revista S/A acaba de nascer para fechar a lacuna que existia. Agora é só trabalhar.

foto: sandrinha

TEXTO: Lenne Ferreira